terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Prelúdio - Ato 008 – Verdades esquecidas


Sarah estava de volta a sua nova morada, o salão subterrâneo do pilar do Oceano Atlântico Norte e ainda estava confusa com tudo que lembrara horas atrás.

Ankaa e Atena haviam despertado uma cascata de lembranças que Sarah havia esquecido

HORAS ATRAS – MENTE DE SARAH DURANTE O CONFRONTO NA PRAIA DE LEMURIA

No velho celeiro trabalhava Leônidas, pai de uma linda Lemuriana chamada Sarah, e de um bebê ainda por nascer. Era noite de tempestade, e apesar do apelo de Liana, Leônidas não retornava a casa.

De repente um raio cai na torre de metal no alto do celeiro, e um forte barulho é ouvido. Liana vai até o celeiro, e vê Leônidas preso a uma parte de madeira arrancada do teto pela força da descarga elétrica.

A esperta Sarah volta logo com ajuda, mas vê os olhos do pai se fecharem.

— Pai! Desesperada grita Sarah. — Acorda pai! Nós precisamos de você.

Leônidas pega na mão de Sarah, e lhe dá uma peça de madeira, uma sereia que passara dias esculpindo. Sarah sorri, e seu sorriso encerra os momentos de Leônidas na Terra, que morre com um sorriso nos rosto.

Sarah olha para o lado e vê uma jovem de branco, que leva seu pai para o alto.

— Moça, não leva ele não. Pede Sarah. Deixa ele com a gente.

A jovem de branco sorri para a menina, e leva Leônidas para o céu. Sarah passa o resto do dia chorando.

Os meses se passam, e na sala da casa pouco se via Sarah. Liana passava os dias angustiada sobre o que comeria Sarah, e como elas sobreviveriam sem a provisão trazida do trabalho de Leônidas. Repentinamente entra uma galinha correndo casa a dentro, facilmente capturada por Liana.

— Obrigada Atena! Saudou Liana. — Obrigada pela provisão.

Sarah sente uma luz vinda de fora, e sai para ver. Era a mesma jovem de branco que levara Leônidas. Sarah ao vê-la se enfurece, e sai correndo para expulsá-la. A luz se dissipa no ar.

Sarah ao comer a ave lembra-se dos anos passados, quando dos campos de seu pai saiam comida farta, e do celeiro recordava de seu pônei com o qual corria toda a província para o afago de todos.

Com a morte de seu pai, tudo de valor com exceção da casa fora negociado por comida, e quando não restava nada, eram os vizinhos que apoiavam com algum alimento.

A menina com seus doze anos não se conformava com as perdas, e culpava Atena pela morte de seu pai.

Dias depois caminhando pela praia uma forte voz ecoou vinda do mar.

— Sarah! Está aflita, revoltada ... E sei o porque de tudo isso. Atena te abandonou. Te tirou tudo, e te abandonou! Eu te darei tudo o que quer. É só pensar.

A menina abre os olhos, brilhantes de ganância pela oferta recebida.

— Sim, eu quero! Responde prontamente Sarah. — Eu quero ter o poder de mudar as coisas. Eu quero acabar com Atena em Lemúria!

Por segundos paira o silêncio, e só o mar entoava sua melodia.

— Sarah, te dou o que queres, mas tenho uma condição. Nunca mais retornará a esta terra. Ficarás ao meu lado até o exato momento que triunfarei. Tornarei Lemúria meu território, e você a governará em meu nome. Irei mudar a superfície da Terra a meu prazer, e reestabelecerei sua família. Esteja comigo, e não te arrependeras. Sou Poseidon, o Senhor dos Mares!

Os olhos de Sarah brilharam ainda mais.

— Isso! Vou falar com minha mãe ...

A voz interrompe Sarah.

— Não! Você virá sozinha! Regressará como Sarah de Sirene, um de meus guerreiros de elite, meus Genarais Marinas. Tomará Lemúria em meu nome, e estará com sua família então. Venha!

Um caminho entre as onda é criado, e Sarah por ele percorre com a emissão de um grande clarão. O mar se fecha e Sarah desapareceria de Lemúria por longos anos.

Sarah chega a um grande salão, onde se via belíssimas armaduras alaranjadas, o “Salão das Escamas” como estava escrito ao alto numa escrita nunca por ela vista, mas plenamente compreendida. Imediatamente após ler o nome “Sirene” na base de certa escama, ela treme e veste Sarah. Todo o poder e conhecimento da General Marina do Atlântico Sul lhe é incorporado.

— É incrível! Comenta Sarah de Sirene. — É muito poder concentrado em minhas mãos.

A voz que a guiara até aquele lugar, ri.

— Mas para ter esse poder ... Diz Poseidon. — Deves se unir a mim, e me fazer seu único Senhor. Muitas maravilhas te esperam, e peço em troca apenas tua total fidelidade.

Sarah, vislumbrada com tudo que ouvira acena em sinal positivo, a cada frase que o deus proferia.

— Liderará marinas que conquistarão parte da superfície a meus domínios. Prossegue o deus. — E ao final a superfície da Terra e o mar serão um só.

Poseidon gargalha.

— Vou tomar a Terra de Atena. Afirma. — E você, Sarah de Sirene, tomará ao meu reino diversas regiões, e em especial Lemúria. Em troca terá poder, e escolherá o local para viver e comandar. Será autoridade maior em tua terra, subjulgada a mim e a minha vontade divina.

A voz que com ela falava se figura de pé ao fundo do salão. Sarah estava eufórica com tal proposta, e com sua escama se ajoelha diante a escama brilhante do deus, que de tão luminosa ofuscava a imagem do homem que a portava.

— Serei sua serva de agora e diante. Reporta-se a Poseidon, Sarah. — Como Sarah de Sirene levarei teu nome a superfície, e farei justiça aos que resistirem ao teu infinito poder.

Sarah sai do salão das escamas e caminha para o pilar do Oceano Atlântico Sul, e adentra a passagem para a câmara abaixo do pilar.

No espaço simples, mais ricamente ornamentado por símbolos do deus dos mares e da ninfa sirene, ela encontra uma cama onde depois de se despir de sua escama repousa.

A marina chora ao lembrar-se da sua mãe.

— Darei a minha mãe a dignidade que Atena sempre negou!

Dois meses depois após muitas ações de domínios de ilhas no Oceano Pacífico, Sarah é autorizada a ver sua mãe.

LEMÚRIA – SEIS MESES DEPOIS DA SAÍDA DE SARAH

Liana por muito tempo chorou o sumiço da filha, mas com o nascimento de Teon essa dor é amenizada. As fotos de Sarah mantinham viva a certeza de que a filha pródiga retornaria ao lar.

A presença do pequeno Teon era um alento diante da grande dificuldade. A dificuldade no parto, e a certeza das parteiras de que a criança não sobreviveria deixava ainda mais claro que o menino fora um presente de Atena. Liana sentia que seu ventre foi tocado por Atena, e desde o nascimento de Teon a prosperidade voltara ao lar desfeito, incluindo o retorno dos seus bens, pela caridade dos que deles haviam negociado.

MENTE DE SARAH – LINHA DO EQUADOR

Era início da tarde e Sarah e seus subordinados adentram o continente pelo grande rio, abaixo da linha da linha média imaginária que divide a Terra em duas metades. As aguas do rio desaguavam no mar, a Sul do oceano Atlântico.

Por onde passavam era grande o terror, os homens com lanças de madeira e foices eram dizimados na medida que Sarah entrava terra adentro.

Em uma região mais adentro, onde as águas mudavam de cor, Sarah sente uma energia latente, adormecida. Não intimidada ela manda uma tropa de aviso, uma estratégia diferente da até então feita. Os moradores do lugar se preparavam para a batalha.

As tropas de marinas entram mato adentro matando tudo que viam pela frente, e nem mesmo os animais eram poupados. O cosmo sentido por Sarah desaparecera.

Sarah seguia ao fim da legião de marinas, saboreando a vitória fácil, quando em meio a névoa de flores e pólen uma grande cosmoenergia é liberada, varrendo toda a floresta em direção a Sarah.

A general marina é arremessada por dentro do mato de volta ao grande rio que ali a levara. Sarah de Sirene recolhe o que restou de suas tropas, aguardando o próximo movimento de seu poderoso oponente.

Por instantes nada acontece, e o avanço das tropas é autorizado. Os soldados eram poucos e estavam com medo, mas ainda assim avançaram.

Três grandes cosmos são sentidos, e a certeza que interessava a Poseidon, Atena saira para recrutar seus soldados.

Sarah volta atrás e ordena a retirada, quando do meio da mata flechas atinge de morte três marinas. Eles morrem envenenados. Sara toca sua flauta, e sente uma nuvem de cosmo em proteção a um cosmo mais fraco em meio as árvores.

A general marina caminha por entre as árvores e não vê seu alvo. Ela toca sua flauta e o arqueiro cai por influência de sua canção mortal. O jovem de idade próxima a sua surpreende Sarah. Ela não consegue prosseguir seu canto, pois o olhar do arqueiro não a permitia.

— Qual teu nome arqueiro? Indaga Sarah. — Ele levanta-se com dificuldade, e mantém sua postura de ataque, armando nova flecha ao arco.

— Não direi. Responde o arqueiro. — Não revelarei ao inimigo minha identidade.

Sarah muda seu semblante, abaixa sua flauta e caminha em direção ao arqueiro, colocando seu coração a centímetros da ponta da flecha.

— Sou Sarah. Apresenta-se a marina. — Atire a flecha! Não moverei um músculo sequer.

O arqueiro sabia que àquela distancia com a envergadura dada a seu arco um disparo seria fatal, mesmo em espessa proteção de metal. As flechas que usava tinham como ponta um raro metal que ele havia encontrado. Isso o fizera o melhor arqueiro da aldeia.

— Sou Oriti. Diz o arqueiro desarmando seu arco. — Pode me matar. Fraquejei diante do inimigo. Não consigo te lançar mais uma fecha. Toque sua canção e acabe logo com isso.

Sarah toca o queixo de Oriti e levanta seu rosto.

— Também fraquejei diante do inimigo. Retruca Sarah. — Você ainda está vivo. Não o matarei. Pouparei tua vida por ter desistido de tirar a minha.

O brilho dos olhos de Sarah parecia uma chama em brasa. Oriti transpirava ainda mais diante de Sarah.

— Mas ... Decepcionado, começa o arqueiro. — Você matou a todos da minha aldeia. Minha família, minha irmã querida, Régia, tão inocente, por que? Por que não consigo te atacar, monstro mal ... Oriti interrompe sua fala com um choro.

Sarah sente a dor ao lembrar da perda de teu pai.

— Complete! Diz Sarah

Oriti balança a cabeça.

— Não consigo. Diz. — Não consigo lutar contra você. Não consigo te matar.

Sarah discretamente ri.

— Eu também não consigo te matar. Diz a marina. — Quando aqui eu retornar lutaremos até um de nós vencer. Você com teu arco e eu com a minha flauta.

Oriti olha para Sarah com determinação.

— Que assim seja. Diz. — Nesse dia vingarei a morte de minha família. De minha doce irmão Régia.

Sarah olha nos olhos de Oriti, mas não consegue firmar e desvia o olhar. Oriti vê a docura de Sarah, sua inimiga, e no peito sente por ela uma grande ternura.

Ele sai, pega seu arco, e some na mata. Na direção oposta começam a retornar os soldados marinas sobreviventes. Sarah empunha sua flauta e sal destruindo a mente dos poucos marinas que ali estavam, e tudo acompanharam. Aquele momento deveria ser só dela e do arqueiro Oriti.

— Não posso permitir que meu Senhor saiba que fraquejei. Pensa Sarah. — Eu não seria poupado por ele. Preciso dominar muitas terras para meu Senhor. Meu trabalho aqui está terminado.

Sarah se encaminha de volta ao rio, mas antes de entrar na águas barrentas olha para a floresta.

— Viva Oriti. Pensa a marina. — Na próxima vez veremos o que fazer de nós.

MENTE DE SARAH - TEMPLO SUBMARINO

Sarah retorna ao Templo Submarino e se curva a Poseidon.

— Fez um bom trabalho no Atlântico Sul, Sarah de Sirene. Diz Poseidon. — Mas não completou sua missão. Deixou um dos adversários escapar. Atena o encontrou, e ele será recrutado mais cedo ou mais tarde.

A general marina fica apavorada com o conhecimento do deus de seus atos. Receosa de ser punida duramente por seu desempenho falho se desculpa.

— Desculpe-me meu Senhor. Errei e aguardo minha punição.

Poseidon ri.

— Não o farei, ainda. Pondera o deus. — Sua missão foi satisfatória. Espero que outros fatores não afetem seu desempenho novamente.

Sarah fica mais aliviada. Sua postura demonstra isso.

— Obrigada, meu Senhor. Resigna-se a marina.

Poseidon circula em volta de Sarah enquanto fala.

— Apesar disso ... Continua Poseidon. — Mudarei meus planos. O Cavalo Marinho ira a região mais ao Sul do Atlântico. Você aqui permanecerá. Em breve terá nova missão.

O deus sai e Sarah ali permanece ajoelhada.

— Mas que droga! Esbraveja Sarah quando Poseidon já estava longe. — Estava ansiosa por essa missão.

MENTE DE SARAH – PILAR DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

Sarah esta diante do pilar do Oceano Atlântico Sul, e após um longo confronto com Régia de Peixes, percebe estar com uma rosa branca cravada em seu coração.

— Régia ... Diz Sarah. — A doce irmã de Oriti.

Régia se assusta com a fala da marina.

— Oriti? O que sabe sobre Oriti? A amazona estava confusa. — Te darei uma chance se me falar dele.

Sarah sorri.

— Certo, Amazona de Atena. Responde Sarah.

Régia faz sumir a rosa branca no peito de Sarah, já debilitada pelo efeito parcial da Rosa Sangrenta.

— Meu ataque está posto. Diz Régia. — A essa distância você não sobreviverá.

Sarah sorri.

— Interessante situação. Diz a marina. — Estive em igual situação com a flecha de ponta metálica envenenada de seu irmão, mas ele não atirou.

Régia fica nervosa com tudo aquilo.

— Diga logo o que quero saber! Ordena a amazona. — Por favor .... Suplica Régia, muito ansiosa.

Sarah pede ajuda a Régia para se levantar. Régia a encosta nos degraus da escada, e senta ao seu lado.

— Percebi a presença de Oriti na mata. Narra Sarah. — Ele derrubou três de meus soldados. Toquei minha flauta, mas um cosmo forte o protegeu. Ele caiu e pude dar a sinfonia final, mas os olhos de teu irmão não permitiram. Ele armou seu arco, mas não conseguiu atirar. Me apaixonei por aqueles olhos, espírito de luta e misericórdia.

Régia fica eufórica com a estória.

— Mas ... Ele está vivo? Régia estava nervosa, e Sarah muito tranquila.

— Sim, “doce irmã”. Responde Sarah. — Assim ele se referiu a você. Hoje entendo o que me fez Ankaa e Atena. Eles queriam abrir minha mente a verdade, às verdades esquecidas. Hoje sei que Atena sempre esteve ao meu lado, ao seu, ao de Oriti. Nunca me faltou comida, nem carinho. Estava cega, e não quis ver o grande amor no rosto de Atena.

Régia fica surpresa.

— Você já viu Atena, Sarah?

Sarah respira fundo, mas acaba cuspindo sangue, visto o efeito devastador inicial da rosa sangrenta de Régia. Régia se entristece com o estado de Sarah.

— Sim. Responde. — Sempre. Quando levou meu pai. Quando minha mãe estava preocupada em não ter o que comermos, e ela manda uma galinha. Quando salvou Oriti do som de minha flauta. Quando salvou você do meu ataque, e te mandou aqui para que eu me lembrasse disso tudo. Quando me disse tudo isso em Lemúria. Enfim fui uma tola, e por isso mereço morrer.

Régia percebe o arrependimento sincero de Sarah e desarma-se.

— Não! Intervem Régia. — Você não vai morrer aqui. Não por minhas mãos. Se meu irmão poupou tua vida, também o farei. Mostrou-se digna desse ato.

Régia junta os dedos indicar e médio, e perfura a pequena abertura feita pelo cabo da rosa branca. Sarah sente o impacto e a dor. Uma quantidade de sangue quase negro sai, e Régia aplica seu cosmo para fechar a ferida.

— Você ficará bem, Sarah. Tranquiliza Régia. — Sem o veneno da rosa, e com a ferida fechada em breve estará recuperada.

A escama que Sarah vestia abandona seu corpo, montando-se novamente ao seu lado. Seu cosmo se apaga, e Sarah chora.

— Desculpe-me Régia. Arrependida diz Sarah. — Não sou digna de tanto amor. Trai Poseidon e não posso mais ficar aqui. Terei que fugir, mas já sei para onde vou.

Sarah se levanta, e ainda sem equilíbrio se apoia numa pilastra.

— Adeus Régia de Peixes. Despede-se Sarah. — Que Atena a recompense. Sarah acena para Régia já há alguns metros de distância. — Derrote Poseidon e salve a Terra, por Atena. É tarde demais para eu fazer isso. Perdoe-me por tua aldeia. Estava cega. Sei que um dia reencontraremos Oriti, meu arqueiro Tupi.

Sarah tenta se teletransportar mas não consegue. Ela se preocupa por haver soldados marinas no caminho e ela não ter mais nenhum poder. As flores de Régia derrubam dois marinas próximos dali.

 — Vá Sarah. Diz Régia. — Não há mais marinas em teu caminho. Os generais já foram derrotados, e minhas Rosas Piranhas varreram esse templo limpando o caminho para sua saída. Vá em paz.

— Obrigada. Diz Sarah agradecida.

Repentinamente surge Leo de Áries vindo do pilar do Oceano Ártico. Ele vê Sarah ir embora, e comenta a situação.

— Que bom que ela se arrependeu de seus atos. É um começo para muitas coisas.

— É verdade. Régia toca o ombro de Leo e pondera. — Mas ... vamos para junto de Atena no pilar central.

DE VOLTA – CÂMARA DO PILAR DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

Apesar de confusa com tudo aquilo, para Sarah as lembranças transmitidas por Atena em nada mudaria sua realidade de fidelidade a Poseidon.


AS DURAS LEMBRANÇAS TRANSMITIDAS POR ATENA A SARAH DE SIRENE SÃO REVELADAS. O DESENROLAR DA GUERRA MOSTRARÁ A VERDADE.


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