segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Ato 20 – O fio das duas espadas


A noite chega, e plenamente instalado na casa de Mia, Noir e Boni, que insistiam que ficasse no quarto das meninas nos dias que ficasse na Vila, Donni saiu para uma caminhada à noite. Ele aguardava o sinal para seu próximo destino.

Mia, muito curiosa com as andanças de Donni, numa corrida se coloca passos atrás do guerreiro de Atena seguindo-o.

– Não tem sono minha Mia? lndaga Donni, virando-se para trás.

– Hoje ainda não. Responde a Menina. – Estou animada em talvez ser uma andarilha. Vou pedir a Antena essa missão.

Donni ri.

– Soube de sua habilidade de ocultar sua presença e cosmo. Comenta. – Teu pai me contou.

– É mesmo. Confirma Mia. – A Anna pediu eu fiz, só isso.

 No céu o brilho se faz presente

– Olhe! Chama atenção Mia. – Estrela cadente. Deve ser seu novo destino. Não é para lá que você disse que é o Santuário de Atena.

Donni estava admirado pela percepção e raciocínio da menina

– Exatamente. Confirma Donni. – Meu destino é a casa de Atena.

– Legal. Comenta Mia. – Queria ir contigo, posso? 

 Donni bagunça o cabelo da Mia e ri.

– Não pode ainda. Responde. – Quando chegar lá, se for desejo de Atena, mandarei te buscar.

Mia ficou empolgada

– Eu vou. Comenta. – Acho que por agora Atena quer que eu durma. Não demore hein.

– Pode deixar. Responde Donni entrando a brincadeira da menina. – Está com sono?

– Não. Responde Mia. -Tem alguma história para contar?

A espontaneidade da menina entrete Donni.

– Sim. Responde. – Em minhas viagens às terras lá para as águas do Oceano Atlântico, eu conheci alguém chamado Sallas.

TERRAS DO OCEANO ATLÂNTICO - DOIS MESES ANTES

Donni seguia para terras expoente mais ao norte do Oceano Atlântico. Onde um homem chamado Sallas era conhecido como herói, subjugando os inimigos pelo fio de sua espada.

Aquelas terras eram marcadas pelo conhecimento da forja da espada e seu uso. 

Sallas eram um espadachim inato, mestre da forja de lâminas mortais, e cidadão respeitado em sua terra.

Ele correra o mundo em busca do conhecimento sobre espadas. Era considerado um autoridade onde a justiça era medida pelo fio de espadas.

A flecha do arqueiro dos céus levara Donni ao encontro desse homem, e de sua história contra as criaturas vindas do mar.

Recém-chegado a vila da Ávila, Donni ouvia aqui e acolá estórias dos grandes feitos do herói local. Sobre como ele expulsara os soldados e comandantes marinas de volta para o mar.

Mas de todas as histórias uma lhe pareceu mais interessante: As espadas forjadas pelo sangue e pela alma dos inocentes.

Contava um aldeão a Donni a estória da forja pelo mestre do mestre de Sallas, da espada banhada pelo sangue de cem inocentes levados pela sangrenta batalha contra os bárbaros vindos do centro do grande território.

Dizia a lenda que a espada brigava em vermelho a cada corte, e dizimou todo o exército inimigo quando blandida pelo guerreiro escolhido por ela, o avô do menino que quando homem teve medo de usá-la e a quebrou.

UM ANO ANTES

A espada cortava qualquer coisa na terra, e houve época que sequer se via a mesma ainda empunhada. Assim lutava Eli, um orgulhoso guerreiro que treinara também um prodígio vindo do mediterrâneo em busca de conhecimento, veloz, mas não muito afeito lâminas. Eli ensinara a muitos, mas para seu filho Sallas seu orgulho foi um grande obstáculo.

O talento inato do garoto se sobrepunha ao esforço do árduo aprendizado, desde a forja das lâminas perfeitas ao seu manejo. O esforço e trabalho contínuo eram necessários a forja de um guerreiro, e assim rezava a filosofia do mestre Eli. O rápido crescimento de Sallas nas artes das espadas não se aplicava a essa regra, e o mesmo era cada dia mais rejeitado pelo mestre.

Em sua Juventude Sallas forjara “Al Ghur” após seu retorno das terras médias no oceano Índico (atual Mongólia). Sua busca por outros mestres compensava certa ausência. Mas Al Ghur não era a lâmina perfeita, apesar de nunca ter falhado diante de um inimigo.

As andanças de Sallas faziam dele um filho perdido das terras dos mestres da lendária espada do Espírito Rubro.

Após o retorno de mais uma de suas longas jornadas por conhecimento, Sallas encontra o mestre Eli, já debilitado pela idade avançada, à sua espera.

– Que bom que retornou meu filho. Saúda Eli a Sallas que adentra os aposentos do seu pai. – Tenho assuntos a tratar contigo antes da minha morte.

A relação distanciada pelo destino tornava o momento ainda mais difícil a Sallas

– Estou aqui meu pai. Responde Sallas. – Creio que não temos muito tempo para tudo que precisa ser dito. Desculpe a ausência. Precisava encontrar meu caminho, minha espada.

– E encontrou o que procurava Sallas?

– Não meu pai. Responde Sallas. – Aprendi muito, mas ainda tenho uma grande ausência.

– Imagino. Confirma Eli. – A espada rubra sem nome, forjada é carregada pela linhagem da família, agora é sua. Será meu legado a você.

Sallas esperava por essa revelação, mas não tinha certeza de como reagir.

– Não sei se é minha. Responde. – Nunca a empunhei. Sequer a vi ao detalhe. Minha é Al Guhr, a espada forjada pelo espírito da luta dos guerreiros de outras terras, que me cederam seu fio.

Eli retrucou com a cabeça.

– Não. A espada precisa de um nome. É seu legado reforjá-la com seu espírito de luta. O guerreiro nascido pronto para o combate. O último portador da lâmina das cem almas. Não poderá rejeitar esse fardo.

Eli aponta para o canto do cômodo uma bainha com uma espada.

– Pegue essa espada incompleta. Prossegue vagarosamente Eli, visto sua debilidade. – Tentei forjá-la para você por toda vida. Tú que és mestre da forja, o mestre dos mestres como seu avô. Termine sua espada com prova de meu amor inacabado por você. Prepare-se para receber e nomear a espada rubra sem nome.

Sallas na cabeceira do Pai sente os últimos momentos do mestre de grandes guerreiros pelo mundo, mas que não fora seu mestre.

– Farei como ordenaste, meu pai. Responde. – Te devo.

Ele respira bem fundo, recuperando talvez as últimas energias.

– Perdoe-me pelo meu orgulho. Manifesta Eli. – Errei ao ausentar-me e permitir que buscasse outros mestres a mim. Errei ao julgá-lo inapto por sua habilidade especial. Errei a negar seu dom. Demorei a perceber que eras o guerreiro ao qual falara meu pai, e procurei em todos aquilo que me foi dado por um presente. O dom que me pouparia as forças, e honraria a espada sem nome.

Sallas chorava por seu pai, o que fizera apenas quando menino.

– Sabes onde encontrá-la, meu filho. Diz Eli, apertando forte a mão, e se despedindo.

Passadas horas, Sallas sai da casa do seu pai, para o olhar constermado de todos. Ele segue para forja do mestre com sua espada inacabada, e passa a madrugada trabalhando.

Pela manhã era grande a expectativa. Fazia meses que da forja não saia nada, mas parecia que das mãos do novo mestre ferreiro isso mudaria.

Sallas sai com uma roupa de couro cru que lhe cruza o peito, com cinco pinos de metal que reforçavam os ombros. O peito e a cintura de um colete que guardava nas costas uma grande bainha de metal para três espadas.

Nas costas estava Al Ghur, nas mãos de Sallas uma uma espada de brilho azulado que ele colocara a esquerda, permitindo ao centro a inserção de uma nova espada.

Ele se dirige ao memorial da vila. Local que recebia a todos com a estátua de Atena, e guardava encravada numa bainha de pedra a espada rubra sem nome.

Todos aguardavam a prova do portador da espada, visto que nenhum homem além de Eli e antes de Elaor a empunharam. Sallas adentra o pequeno salão, e minutos e depois sai com a espada na mão colocando lá no centro da bainha de Ferro. A espada lendária tinha novo mestre.

Admirados todos contemplavam o momento, quebrado pelo alarme local. Novamente as criaturas do mar invadiam pelo litoral. A espada rubra brilhou, e parecia ser a hora do combate.

Pelo litoral, homens com vestes alaranjadas caminhavam gerando medo a todos. Sallas com Al Ghur fatia, e devido ao seu grande número de inimigos ele também utiliza “Anima” com a mão esquerda.

Quando tudo parecia solucionado surge um guerreiro infinitamente mais forte. Com vestes brilhantes, e uma lança dourada se apresenta o guerreiro marina a Sallas.

– Sou Chris, o gigante Chrisaor. Guardião das águas quentes do oceano Índico. Servo do Senhor dos mares, Poseidon. Há muito se luta por essas terras, mas agora isso acabou. O portador da espada sem nome morreu e nada mais irá se opor em meu caminho.

Sallas sinaliza que não.

– A espada sem nome tem novo portador. Retruca. – E este não permitirá sua passagem.

Chris ri.

– O nômade voltou de sua jornada? Ironiza. – Interessante. A espada sem nome está perdida.

Sallas com um movimento de mão convida Chrisaor para a luta.

– O filho dessa terra voltou. Responde. – Agora que tal provar sua teoria.

Chris movimenta sua lança e diversas investidas de corte são interceptadas por Al Ghur, e refutadas pela lâmina. Um dos cortes finais passa pelo cabelo de Sallas, mostrando a medida do fio da lança do marina.

– Preciso tomar cuidado. Pensa Sallas.

Com as espadas em punho, e a lendária espada na bainha, ele desvia dos ataques de Chris, mas não contra-ataca.

Sallas sente Al Ghur perder seu brilho, e logo depois trincar.

– Quebrei sua espada guerreiro. Zomba Chris. – Quebrei seu espírito de luta. Será que alma de seu pai na espada inacabada resistirá?

Sallas como bom espadachin, e já conhecedor dos fundamentos da lança do adversário prepara sua investida.

Ele desembainha a espada lendária, e embainha a trincada Al Ghur. Anime permanece imóvel.

Chris nada entende.

– O que pretende? Indaga o Marina. – Pretende apenas se defender? Esse será seu grande erro. Arrogante como o pai. Morrerá pelas minhas mãos.

Chris inicia o ataque com sua lança, mas é repelido e atacado ao mesmo tempo. Visualmente Sallas não se movera, mas o marina já conhecia a técnica.

– Parece que aprendeu pelo menos isso com seu pai. Comenta. – Vejamos quanto tempo aguenta a alma de Eli. Contra minha escama, e as cem almas contra minha lança que corta tudo com seu fio.

– O que está esperando, marina. Retruca Sallas.

Os guerreiros reiniciam a luta, e o empate era inevitável, quando a espada rubra se inflama em vermelho, e convida Sallas a usá-la como ataque.

O guerreiro tinha medo de usar seu fio, e decepciona as cento e duas almas que morreram por ela. Sallas sente um ardor especial, e a espada rubra brilha diferente. Era seu avô Elaor que o convocara a queimar seu espírito de luta.

Sallas guarda Anima, que rachara na bainha, queima seu cosmo, e ao blandir a espada lendária estremece a terra e assusta Chris.

– Essa é Excalibur, a lendária espada rubra que não tinha nome. Afirma o guerreiro de Atena. – A começar por você, todos conhecerão o espírito das mais de cem almas que por ela, e junto a ela deram a vida.

O general marina cessa o ataque entorpecido pela luz vermelha emanada pela agora “Excalibur”.

Sallas empunha Excalibur e a prepara para um movimento de corte diagonal de sua posição, inflamando seu cosmo novamente.

– Corte, espada sagrada. Pede Sallas. – Seu humilde portador a pede. Eu aceito o legado, e junto a ti o meu espírito.

Sallas desfere o golpe e Chris, tentando defender com sua lança, é arremessado de volta ao mar.

A poderosa lança é quebrada em duas partes. Com sua lança quebrada, sua escama rachada da ombreira a bota, e o torax cortado, não havia nada que pudesse o marina fazer a não ser recuar.

Sallas vê o inimigo sumir nas águas do mar, e cai de joelhos apoiado na espada esgotado.

No chão encontra fragmentos de Al Ghu e Anima, e tocando a lâmina se corta. O sangue que cai é incorporado a Excalibur, e a mente do espadachim vem uma nova missão.

Ele arranca parte do couro do colete, e recolhe os fragmentos das espadas, que ressoam brilhantemente prateada e azulada.

Sallas chega a vila, e vai direto para a forja. Preocupados os moradores levam alimentos para o mestre espadachim, pois sabiam que seria mais um longo dia.

O calor da forja era grande, e o sangue dos cortes que descia, soma-se aos pedaços de Al Ghur e Anima. Ao fim nascia da forja “Durandal”.

Terminada a missão, Sallas esfria a forja, fato que não ocorria há anos, desde a morte de Alaor. Ele se alimenta e descansa.

Na manhã seguinte Sallas passa em sua casa, e tempo depois sai com as duas espadas ao memorial onde é guardada Excalibur. Ele cria um novo entalhe na pedra, e uma nova bainha recebe Durandal.

As espadas ressoam e uma jovem de aura clara e vestido branco surge diante Sallas.

– Sallas de Avila, filho de Eli, neto de Eloar, portador da lendária espada rubra Excalibur. O último e definitivo guerreiro da espada das cem almas. Proclama Atena. – Sou Atena, a deusa da Sabedoria e Guerra Justa, e vim conceder a ti uma honraria em atenção a seu compromisso a paz na Terra.

Atena retira Excalibur e a empunha. Ela toca o ombro de Sallas, que estava ajoelhado em reverência, com a lâmina deitada.

– Eu te consagro a Excalibur. Proclama Atena. – A lâmina perfeita que será parte de você, enquanto queimar seu cosmo para o bem da Terra. O portador e a espada que se tornaram uma arma única.

Nesse momento a espada rubra desaparece, e Durandal assume seu lugar, no topo da pedra.

– Nesse Memorial as almas dos mais de cem guerreiros mortos em batalhas permanecem em Durandal, a ser portado pelos jovens guerreiros eleitos, de geração em geração. Narra Atena.

A deusa toca a pedra, e após um brilho intenso surge na bainha de pedra entalhe registrando: “Aqui esteve Excalibur, que jaz no cosmo do último portador da lâmina”. Abaixo da inscrição marcada fica entalhada um selo de Atena.

A cor rubra tão presente na antiga espada sem nome passa para a lâmina de Durandal, retornando o brilho característico daquele memorial de pedra.

A deusa levanta Sallas, e dissipando sua luz do jeito que chegou, deixa sua mensagem final.

– As forças de Poseidon estão ativas, e em breve terás uma missão. Conclui Atena. – Aguarde o mensageiro.

– Sim Atena, aguardarei. Responde Sallas.

No dia seguinte todos souberam do decreto de Atena no Memorial das cem almas de Ávila, com Durandal como a nova espada rubra.

O tempo avançou e Sallas convocou os jovens para o ensino as técnicas da forja e do manuseio da espada, visando formar novos mestres e espadachins. Assim as cem almas poderiam escolher o portador de Durandal.

ÁVILA – DUAS SEMANAS DEPOIS

Donni caminhava pela vila de Ávila. Quando chega a forja, lá se via diversos jovens fazendo espadas.

– Seja bem-vindo, visitante. Saúda Sallas. – Desculpe os maus modos, mas hoje é dia da forja. Só sairá daqui quem forjar uma boa espada.

– Interessante o rigor dessa aula. Comenta Donni. – Posso me juntar a eles?

– Certamente. Responde Sallas. – Mas a regra é a mesma pra você.

Donni confirma com a cabeça, e Sallas lhe indica o local para trabalhar.

Com relativa facilidade Donni domina o metal, e algumas horas depois, ajusta o fio e finaliza a empunhadura, entregando a espada ao mestre da forja.

Sallas avalia a arte de seu novo aluno e se surpreende.

– Muito bom! Elogia o mestre. – A quem devo parabenizar?

– Donni, o Andarilho. Responde o aluno visitante.

– O mensageiro de Atena, eu suponho? Indaga Sallas para confirmação de Donni.

– Poderia ajuda-los dessa vez? É tarde.

Sallas ri.

– Sim, desta vez! Responde.

Donni ajuda a todos, trazendo muito do que aprendera com sua família.

Com a finalização da última espada, Sallas e Donni poderiam enfim se acertar.

– Atena pede sua presença no Santuário em construção em Atenas, sua fortaleza nessa guerra. Começa Donni.

– Sim. Responde Sallas. – Mas não poderei ir agora. Preciso cumprir outra missão dada por Atena: encontrar o portador de Durandal, e criar a linhagem de Mestres Espadachins.

– Hummm. Donni estava pensativo. – Se precisar de ajuda nessas tarefas ... Pelo menos posso forjar uma boa espada.

Todos riem.

– Oferta aceita. Responde Sallas. – Assim que possível partiremos, e creio que você para outro lugar na Terra.

– Acredito que sim. Confirma Donni, para o riso de todos.

Passado um mês partiram todos, com o arqueiro do céu indicando a Donni, um certas terras na zona do mar Mediterrâneo.

DE VOLTA A VILA DO MEDITERRÂNEO

Mia estava atenta, e não perdera nenhum detalhe da estória contada por Donni, mas estava cansada.

– Agora vou dormir. Comenta a menina, sorrindo. – Obrigado. Mas uma pergunta? Sallas foi ao encontro de Atena?

– Sim. Responde Sallas. – Ele seguiu seu destino, como seguirei o meu em breve, e você o seu.

Bocejando Mia se levanta.

– Eu também. Quero ser guerreira de Atena como você. Boa Noite!

Enquanto a menina entra um novo brilho destaca no céu. Donni já tinha sua nova missão. Mia à porta vira o ceu, e ao olhar para Donni encontra um sorriso no andarilho.

– Te vejo no Santuário de Atena. Brinca a menina.

Donni ri.

– Sim. Comenta. – Mas nos vemos no café da manhã antes.

O dia seguinte seria o recomeço, brindado pelo amor daquela família.


DESCORTINA-SE A HISTÓRIA DO GUERREIRO E SUAS ESPADAS. SALLAS, O HONRADO POR ATENA, SEGUE PARA O SANTUÁRIO, E O ANDARILHO PARA SUA NOVA JORNADA.

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